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  • Foto do escritorREDE NOVA LIMA

Eu conto um conto


Eduardo Sabino é natural de Nova Lima e membro da Academia de Letras da cidade. Escritor e editor, cofundador da Caos e Letras, publicou quatro livros de contos, entre eles Naufrágio entre Amigos (Patuá, 2016) e Estados Alucinatórios (Caos e Letras, 2019). Com o conto “Sombras”, venceu o Prêmio Brasil em Prosa 2015, organizado pela Amazon e o jornal O Globo. Em 2020, seu conto “Samuel e Samael” ficou entre os finalistas do Prêmio Odisseia de Literatura Fantástica. Seus livros estão à venda no site caoseletras.com e na Amazon. O conto “O morto” integra a coletânea Limbo (2021).


O MORTO

Chegamos ao cemitério no final da tarde, mamãe segurando meu pulso com muita força, arrastando-me por entre as sepulturas. Eu nunca tinha estado num cemitério e achei que o lugar seria idêntico ao campinho do clube não fossem as placas de metal em toda parte. Quando chegamos ao coreto onde as pessoas estavam, mamãe de repente travou, respirou fundo e depois foi abrindo caminho até o morto. Era o primeiro que eu via fora da tevê e achei-o decepcionante. Nos filmes de terror os mortos eram sempre assustadores. Aquele lembrava titio dormindo, só faltava roncar. Então mamãe disse, bem alto: Esse aí é o seu pai, meu filho. As pessoas se afastaram do caixão na hora, menos a mulher de preto, que arrumou uma gritaria danada e tentou vir para cima de mamãe. O padre entrou no meio e levou a doida para longe. Depois retornou, sozinho, e disse a mamãe: não demore, por favor. Olhei com mais atenção o morto. Seu nariz pontudo e fino parecia com o meu, e não me vi mais: nem nas sobrancelhas, nem no cabelo liso, nem na boca pequena e esbranquiçada. Você não disse que eu não tinha pai? Mamãe levou as mãos ao rosto e notei que elas tremiam. Foi a primeira vez que a vi chorar. De minha parte, não sabia como reagir. Se ela tivesse me contado antes, a escola nem precisaria me liberar no Dia dos Pais e eu nem teria chutado a árvore com os trabalhos da turma no corredor. Agora papai estava ali. Eu poderia lhe contar um segredo, mas ele não escutaria, eu poderia lhe dar um abraço mas ele não me abraçaria de volta. É uma coisa inútil, um pai morto. Vai ver por isso iriam enterrá-lo.






O Jornal Rede Nova Lima convida escritores da cidade a publicarem seus contos em nossas próximas edições. É só enviar o trabalho com as informações: seu nome, título e texto com, no máximo,5 mil caracteres, sem espaço, em documento de Word, espaçamento 1,5, e justificado.O e-mail deve ter o seguinte título na mensagem:"Eu conto um conto". Nossa equipe avaliará os trabalhos e publicará um conto, a cada semana, em nosso jornal virtual.A cada rodada de dez contos publicados,o(a)escritor(a)do conto mais curtido e comentado em nossos perfis do Instagram e Facebook, receberá uma homenagem virtual aqui no Rede.
E-mail:comunicacao@redenovalima.com


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