Else Dorotéa Lopes é professora e contadora de histórias, graduada em Pedagogia e pos-graduada em Literatura Brasileira. Escreve contos a aldravias. Lançou três livros infantojuvenis de aldravias e o livro de contos "Viagem Literária e Outros Contos". Fundou a Academia Nova-Limense de Letras e é a sua primeira presidente.
QUEM FEZ ESTA BAGUNÇA AQUI?
Moro em uma movimentada avenida no centro da cidade. Meu quarto fica nos fundos da casa. Quando mudamos para essa casa, escolhi o quarto dos fundos por dois motivos: por causa do barulho do trânsito na avenida e porque alguns da minha família disseram que meu quarto é muito bagunçado. Nos fundos fica mais escondido dos parentes faladores.
Confesso que mesmo parecendo bagunçado, minha bagunça é organizada. Eu encontro tudo o que preciso. Ao lado de minha cama tem dois criados-mudos. Em um deles coloco alguns livros. Alguns livros, não! Muitos. Leio vários livros ao mesmo tempo. Gosto de ler poesias, antes de dormir. Quando acordo, leio romance. Estão sempre lá: o livro de literatura que devo ler como sócia de um clube de leitura, os livros que compro, os livros que ganho (e são muitos) e outros que me emprestam. Todos os que ainda não li, também ficam lá. Lá estão os frascos de medicamentos, que eu poderei algum dia, precisar.
No outro criado-mudo tenho um rádio, um relógio, um micro system e alguns CDS. Gosto de ouvir músicas enquanto leio ou escrevo. Em cima de uma cômoda há várias caixas. Adoro caixas! Nestas caixas estão as minhas bijuterias, que são muitas, cartões de visitas, porta-trecos, maquilagens, perfumes e cosméticos.
Como poucas pessoas que moram no centro da cidade, tenho o privilégio de ter um pequeno quintal no fundo de minha casa. Como não tenho muito tempo de ficar cuidando de uma horta, plantei taioba, cansanção e ora-pro-nóbis. Essas hortaliças não necessitam de muitos cuidados. Quando não faço feira, é só ir lá colher. E também para distribuir para as vizinhas.
Plantei também uma mangueira, uma pitangueira, uma amoreira e uma goiabeira. Essas árvores são a minha alegria! Nos galhos da mangueira pousam vários pássaros que me acordam todas as manhãs. A pitangueira está sempre com frutas. Eu comia pitangas todos os dias. Depois que vi um pica-pau-da-cabeça-vermelha pousado bicando as pitangas, parei de comer, deixei só para ele. Quando a amoreira está com frutas, me lembro da minha avó. Quando eu era criança, ia todos os dias à sua casa, para irmos ao fundo de seu quintal apanhar amoras. Não me interesso pela goiabeira, pois dá pouquíssimas frutas e estão sempre cheias de bichos.
Eu nunca saio de casa sem antes arrumar a minha cama. Aprendi com a minha mãe a deixá-la arrumada antes de sair do quarto. Tenho o hábito de deixar a janela aberta, para o sol entrar. Não há perigo de entrar ladrão porque meu quarto fica no segundo andar e a janela é muito alta.
Uma tarde, quando voltei para casa, meu quarto estava todo desorganizado. A colcha amarrotada, os meus livros espalhados pelo chão, as caixinhas abertas, as bijuterias espalhadas, CDS caídos. A maior bagunça.
Pensei: “Entrou um ladrão aqui”. Fui até os outros cômodos da casa. Estava tudo organizado. Só o meu quarto estava bagunçado. Voltei lá. Os armários estavam fechados e não tinham sido mexidos.
Tentando adivinhar o que poderia ter acontecido ali, olhei para fora. Foi então que eu descobri quem fez toda a bagunça no meu quarto: Num dos galhos da mangueira estava um macaquinho. Ele segurava com as duas mãos o meu frasco de loção de aveia e chupava como se fosse uma mamadeira.
O pobrezinho devia estar com fome e saiu da mata onde morava para procurar alimento. Achando minha janela aberta, não hesitou: entrou lá para procurar algo para comer.
Quando me viu, assustou-se. Deixou cair o frasco e saiu pulando de galho em galho. Andou pelos fios de telefone e desapareceu.
Fui arrumar a bagunça que o macaquinho havia feito no meu quarto. Ainda bem que ele não rasgou os meus livros.
Depois desse dia, quando vou sair, sempre fecho a janela do meu quarto para que nenhum outro macaco entre lá.
O Jornal Rede Nova Lima convida escritores da cidade a publicarem seus contos em nossas próximas edições. É só enviar o trabalho com as informações: seu nome, título e texto com, no máximo,5 mil caracteres, sem espaço, em documento de Word, espaçamento 1,5, e justificado.O e-mail deve ter o seguinte título na mensagem:"Eu conto um conto". Nossa equipe avaliará os trabalhos e publicará um conto, a cada semana, em nosso jornal virtual.A cada rodada de dez contos publicados,o(a)escritor(a)do conto mais curtido e comentado em nossos perfis do Instagram e Facebook, receberá uma homenagem virtual aqui no Rede.
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