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  • Foto do escritorLetícia Barros

Mercado pornô

A nova fábrica de prazer, crimes e/ou transtornos mentais



O relacionamento amoroso é um complexo emaranhado de prazer e dúvidas. O estilo musical chamado sofrência não faria sucesso caso não existisse um público substancial envolvido nas lamúrias e paixões do coração. Nem mesmo o mais perfeito, carinhoso e romântico casal está livre dos conflitos, certamente, enfrentam paradigmas para permanecerem juntos, pois, a mente e as emoções humanas, latentes ao extremo nessa condição a dois, não têm cura, só tratamento. Agora, imagina um relacionamento em que o parceiro é dependente de um conteúdo capaz de causar consequências graves, semelhantes às das drogas, sendo que o consumo do produto não é considerado crime, nem ao menos um problema. Não, não é o álcool, o assunto é vício em pornografia mesmo. Uma doença da mente, que atua silenciosa como um AVC ou como um câncer a tomar conta do organismo.


O conteúdo pornô é um produto classificado como pertencente à atividade comercial, cuja oferta no mercado é livre, de volume exorbitante, variado, muitas vezes gratuito, ao alcance de todas as idades que saibam digitar na Internet. A situação é tão complexa que uma audiência pública federal da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (2018), tratou o tema e afirmou que a pornografia representa a terceira maior fonte de dinheiro do crime organizado no mundo. Somente nos Estados Unidos, o setor movimentaria em torno de 8 a 10 bilhões de dólares, por ano. Parte dessa receita, acredita-se que serve para comprar agentes públicos, estimulando a corrupção e acrescentou que os problemas desse mercado são graves e envolvem também crimes sexuais.


Como exemplo da ligação entre pornografia, a comissão relatou o caso de uma investigação na Itália. Segundo a pauta, o inquérito mostrou que a máfia, ao decidir expandir sua área de atuação, começou a investir em negócios no Brasil envolvendo sexo, sendo que a indústria do sexo seria um caminho fácil para a lavagem de dinheiro. A produção de revistas e filmes, por exemplo, daria suporte ao tráfico e à extorsão. A matéria foi realizada em 2007 e desde então, de forma massiva, pouca coisa foi feita. A pesquisa mais recente sobre o assunto no Brasil, divulgada na mídia, corresponde ao ano de 2018. Ela revela que, pelo menos 22 milhões de brasileiros assumiram consumir pornografia, sendo a atividade associada, historicamente, a mais uma das formas de exploração e coisificação social da mulher. Parênteses para: então, não seria o caso de a pauta ser tratada de forma incisiva por movimentos feministas, de proteção da mulher e pelo poder público, por meio de políticas públicas?


Não, pelo contrário. Receber um vídeo de sexo explícito, de cunho pornográfico, muitas vezes, é visto como uma situação comum, corriqueira. Um episódio cômico. Consumir pornografia é indicado até como “terapia” de casal. O negócio tornou-se tão natural que adolescentes e jovens têm sido aliciadas, via internet, para “trabalharem” com pornô, vendendo a imagem em cenas de sexo explícito na web. Ao invés de ir para um quarto físico, elas ficam na janela de um site, exibindo seus atributos sexuais, chamados de show. Quanto mais pessoas, de todo mundo assistirem, mais dinheiro elas ganham. Caso forem convidadas para uma sessão privada, o valor é alto. Nesse chat separado, o cliente pede o tipo de performance sexual que ele quer ver e... bem, sem maiores detalhes aqui, acontece o sexo virtual. Uma pesquisa rápida no Google revela influenciadoras do setor, propagando e incentivando a prática. Normalmente, moças jovens e belas chamadas de Cam Girl, garota da câmera, tratando do assunto como se mostra uma receita de bolo. Sem recriminação e responsabilidade legal sobre o assunto.


No final das contas, essas pessoas preparam o terreno para exploração sexual de mulheres, que muitas vezes, caem nas mãos de aproveitadores. O tráfico de pessoas, agora, acontece sem censura, na web. O consumidor final desse produto, enganados pelo som que as artistas pornô fazem, são, na verdade, as correntes que mantêm prisioneiras mulheres multiladas no corpo e na alma, torturadas como se fossem pássaros na casa de algozes. Quantas jovens com vocação real para pornografia existem? Quantas trabalham por livre escolha e paixão pelo que fazem. Será que o público não consegue ver o olhar de dor e desespero ou de vazio profundo que elas carregam enquanto trabalham? Quantas delas não o fazem sob ameaça? Hoje em dia então, para atender um público de milhões de pessoas no mundo, o RH do pornô deve ter uma fonte inesgotável.


Para além do crime, a pornografia protagoniza cenas marcantes no campo dos transtornos mentais. Pois é. O vício nesse tipo de produto é uma situação real com consequências gravíssimas para o indivíduo e seus relacionamentos. Soma-se a esse fato, a informação de que um famoso site de compartilhamento desse conteúdo foi o oitavo mais acessado do Brasil e o sexagésimo oitavo no mundo, em 2019. Um hanking alto demais para um produto que, de acordo com cientistas do instituto Max Planck para o Desenvolvimento Humano, em Berlim, o consumo excessivo tem impacto na matéria cinzenta em certas partes do cérebro, causando redução de sua atividade cerebral, no lóbulo direito e relativo a atividade do córtex pré-frontal. Essa mistura não torna o consumo de pornografia um problema de saúde pública a ser tratado com toda competência disponível? Principalmente, quando se considera que os clicks são irrestritos, inclusive para pessoas em formação e desenvolvimento psicológico, como é o caso de crianças e adolescentes?


Um levantamento realizado em 2014, feito pelo Instituto Kinsey, nos Estados Unidos, apontou que 9% dos consumidores de pornografia afirmaram ter vontade de parar, mas não conseguiram. Apesar da porcentagem pequena, quando é mostrado o número de pessoas que consomem pornografia, a cifra é bem alta. Além disso, em uma pesquisa feita em 2000, pelos pesquisadores norte-americanos David L. Delmonico, Ron Burg e Al Cooper, 17% das pessoas que acessam conteúdos pornográficos na internet têm traços de compulsão sexual. Então, se você se preocupa a respeito da entrada de drogas na vida dos seus filhos, por exemplo, insira mais um item na lista. A pornografia passa pela janela dos olhos, através das telas, e contra ela, não há lei.


O estudo alemão, citado acima, recrutou 64 homens saudáveis com idades de 21 a 45 anos, aos quais responderam a um questionário sobre o tempo que dedicavam a assistir vídeos pornográficos. O resultado foi, em média, de quatro horas semanais. Os voluntários também foram submetidos a tomografias computadorizadas (MRI) do cérebro para medir seu volume e observar como ele reagia às imagens pornográficas. Na maioria dos casos, quanto mais pornografia os indivíduos viam, mais diminuía o corpo estriado do cérebro, uma pequena estrutura nervosa bem abaixo do córtex cerebral. Os cientistas também observaram que, quanto maior o consumo de imagens pornográficas, mais se deterioravam as conexões entre o corpo estriado e o córtex pré-frontal, que é a camada externa do cérebro encarregada do comportamento e da tomada de decisões.


A situação planetária desse novo produto cauterizador da mente tem causado, silenciosamente, o dilacerar da alma feminina. Tanto de mulheres que nem imaginam que seus parceiros estão presos nesse universo, quanto de mulheres (sem mencionar crianças) capturadas para o trabalho pornô, além de mães que têm perdido seus filhos para essa “droga”, sublinhada no sexo feminino porque corresponde à maioria esmagadora de atrizes do ramo, sendo o número maior de viciados, o sexo masculino. Mulheres casadas, principalmente, levam a vida abandonadas emocionalmente e fisicamente devido a homens que se perdem deturpados nesse obscuro cenário de prazer.


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