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  • Foto do escritorREDE NOVA LIMA

Perda de Habitat

Pressão urbana pode ter colocado onça em escola de Nova Lima


Por Amanda Alvares e Letícia Barros



A notícia de que uma onça-parda foi encontrada dentro do vestiário da Escola Municipal Martha Drummond Fonseca – CAIC, em Nova Lima, durante os jogos amistosos entre a Seleção de Futsal de Nova Lima e o time do BNH surpreendeu a população. Temido por muitos, a aparição desse tipo felino, de grande porte, em ambientes urbanos é raridade, ou seja, não é natural. À solta, perto de crianças, gerou mal estar ainda maior. Para entender os motivos dessa situação inusitada, o Jornal Rede Nova Lima entrevistou as médicas veterinárias: a analista ambiental do CETAS – Centro de Triagem de Animais Silvestres – Superintendência do IBAMA em Minas Gerais, Cecília Barreto e a fiscal agropecuária do Instituto Mineiro de Agropecuária, Izabella Hergot.

Antes de mais nada, a veterinária Izabella fez um alerta muito sério. Caso o animal do fato fosse uma onça adulta, mais velha, a pessoa que filmou a onça no vestiário e a criança que a encontrou poderiam ter sido severamente atacados, com risco de morte. “Acuado em um banheiro, as chances de um animal mais velho atacar eram enormes. A força de movimento desse felino é impressionante, com velocidade e agilidade absurdas para um ser humano. O instinto de defesa mais aguçado e experiente de uma onça mais velha poderia ter provocado uma tragédia”, explica.


A médica salienta que a natureza arisca desse animal, normalmente o afasta de locais urbanizados e para fazer mal a um ser humano é preciso que a onça esteja com fome, acuada ou com filhote. As chances de um cenário como esse acontecer é raro. No caso do animal encontrado na escola infantil, sendo um filhote (Puma concolor), de três anos, a ação mais provável era a de se esconder, como aconteceu. A movimentação próxima, sendo de pessoas mais altas que o animal, reduziu o perigo de ataque puro e simples, mas, o perigo foi intenso, isso não é possível amenizar.


Invasão do ambiente silvestre

Izabella lembra que a região onde a onça foi encontrada é próxima de um corredor ecológico. Esses locais são de extrema importância para o equilíbrio ambiental, tanto para segurança alimentar dos animais, quanto para a proliferação da população silvestre. “O território nova-limense tem sido impactado de forma massiva. Exploração imobiliária, desmatamento e a ação indevida de algumas mineradoras têm provocado verdadeiras perdas nesses ambientes. Não há uma resposta exata do porque a onça entrou na escola especificamente, mas, a destruição da habitação natural dela, é a principal causa”, finaliza.


IBAMA no caso

Esses belos felinos vivem aproximadamente 15 anos e fazem parte da biodiversidade da fauna e da flora não só do Cerrado mineiro; a espécie distribui-se do Canadá até o sul do Chile e Argentina explica a médica veterinária Cecília Barreto, que é veterinária formada pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre em Ciência Animal com foco em doenças das aves e pós-graduanda em clínica e cirurgia de animais silvestres e analista ambiental do IBAMA e responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres de Belo Horizonte, desde 2008.


Cecília faz coro à palavra sobre habitação ameaçada. O motivo mais provável apontado pela especialista sobre a aparição da onça perpassa pela expansão imobiliária. “Os animais silvestres vêm sofrendo uma enorme pressão devido à perda de Habitat. Onças são animais solitários que ocupam grandes territórios. Com o aumento dos desmatamentos nós, humanos, estamos invadindo cada vez mais o território dos animais e eles ficam sem lugar. Para conseguir comer as onças precisam andar cada vez mais e, nesse movimento, vez ou outra acabam aparecendo em áreas urbanas ou periurbanas”.

Não aproximar

Entre o “boom” imobiliário, a extração mineral e o desmatamento, a médica veterinária aponta uma tendência. “Onças precisam de grandes territórios para sobreviver. Com o aumento do desmatamento e a expansão urbana, a tendência é que estes animais desapareçam da região”. No entanto, mesmo que a normalidade é de que se distanciem do meio urbano, Cecília alerta. “Em nenhuma hipótese deve-se tentar chegar perto do animal. Quando os animais estão acuados e com medo, o ataque é o melhor meio de defesa dele. Portanto, a única ação a ser feita é sair do local, com calma, e acionar o Corpo de Bombeiros ou a Polícia Militar de Meio Ambiente”.


Ataque a humanos

Onças são animais carnívoros estritos. Isso significa que se alimentam exclusivamente de carne. Em vida livre se alimentam de animais de diferentes portes, mas em sua maioria pequenos mamíferos, explica a veterinária Cecília. “Estes animais tendem à fuga e dificilmente são vistos em vida livre. Sempre que há o relato de um ataque, uma equipe especializada é acionada e o caso investigado a fundo. As investigações ao longo dos anos mostram que os poucos ataques verdadeiros ocorreram quando o animal era vítima de caça, estava acuado, momento em que o ataque é sua única defesa”, conta.

Contra caça e tráfico

A caça de animais silvestres é crime ambiental previsto na Lei 9.605, de 1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais e prevê pena de detenção e multa. Os CETAS fazem parte de um elo importante no combate ao tráfico de animais silvestres, pois são estruturas que possibilitam, não só o recebimento, mas a avaliação clínica, física, comportamental e o atendimento médico veterinário especializado de todos os animais apreendidos pelos órgãos de fiscalização.


Além dos animais apreendidos, os CETAS recepcionam também animais acidentados e recolhidos na região metropolitana, além daqueles que são encaminhados por particulares que os mantinham ilegalmente e se arrependeram. O CETAS é fundamental no apoio aos órgãos ambientais que trabalham com a fiscalização de fauna em Minas Gerais.

Vida livre

O objetivo dos CETAS é receber, identificar, triar, tratar e reabilitar animais silvestres, e proporcionar a eles, a melhor destinação possível, de acordo com as condições gerais de cada indivíduo. Todos os animais recebidos pelo órgão recebem atenção individualizada, passando, a partir do momento de sua chegada por um processo de avaliação, manejo e reabilitação. Durante sua permanência na unidade, todos os indivíduos recebem os cuidados necessários para garantir a saúde, bem-estar e completa recuperação (física e comportamental), de maneira que possam ser, ao final do processo, destinados adequadamente, à vida livre.


O CETAS/Belo Horizonte é, atual e historicamente, a unidade que mais recebe e reabilita animais no país, com uma média aproximada de 8 mil animais recebidos por ano. É importante destacar que para o animal ser solto novamente na natureza é necessário que seja corretamente identificado e reabilitado. A soltura fora de sua área de ocorrência natural e sem estar em condições físicas para tal é um dos grandes problemas observados em animais que não passam pelos CETAS, explica Cecília.

O CETAS em Belo Horizonte fica localizado à Avenida do Contorno, 8121/Lourdes. Contato: cetas.bh.mg@ibama.gov.br – Tel.: (31) 3555-6179


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